
Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou empresários por pagarem salários “baixos demais” a seus colaboradores, reacendendo um debate crucial sobre quem recebe o quê e quanto realmente custa um emprego no Brasil. A discussão, muitas vezes reduzida à polarização política, esbarra em números que merecem ser analisados com clareza — tanto do lado privado quanto do lado público.
Quando um trabalhador é contratado formalmente no Brasil, o salário bruto acordado não é o valor que ele recebe em mãos. Sobre esse salário incidem descontos obrigatórios, principalmente a contribuição à Previdência Social (INSS), que pode variar entre cerca de 7,5% e 14%, e, dependendo da renda, o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Isso significa que o salário líquido — o valor que chega ao trabalhador — pode ser significativamente menor que o combinado.
Do outro lado, para o empregador, o custo não se limita ao salário. Empresas também pagam contribuições sociais sobre a folha (como FGTS e INSS patronal), que elevam o custo total do funcionário em mais de 30% além do salário bruto contratado. Isso é um dos fatores apontados por especialistas como contribuinte para o chamado “custo Brasil”, que dificulta a formalização e pode pressionar para salários mais baixos em determinadas faixas. Senado Federal
Agora, se olharmos para os gastos públicos federais, a realidade também traz números expressivos.
O Orçamento da União para 2025 é estimado em cerca de R$ 5,8 trilhões, valor que contempla todas as receitas e despesas previstas do governo federal, incluindo saúde, educação, previdência e salários de servidores públicos. Senado Federal
Dentre esses gastos, são previstas alocações específicas para os poderes da União e órgãos públicos:
🏛️ Poder Legislativo (Câmara dos Deputados + Senado Federal + Tribunal de Contas da União) tem orçamento autorizado de cerca de R$ 17,4 bilhões para 2025. Desse total, a Câmara dos Deputados fica com aproximadamente R$ 8,3 bilhões e o Senado Federal com cerca de R$ 6,1 bilhões — valores que incluem toda a estrutura, pessoal, custeio e outras despesas ordinárias desses órgãos. Portal da Câmara dos Deputados
⚖️ Poder Judiciário como um todo tem uma dotação de cerca de R$ 59,9 bilhões prevista para 2025, que engloba diversos tribunais. Dentro dessa estrutura, o STF (Supremo Tribunal Federal) tem limite de orçamento estimado em cerca de R$ 894,7 milhões, enquanto o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem algo em torno de R$ 2,1 bilhões. Senado Federal
Esses valores representam toda a atividade dos órgãos, incluindo salários, infraestrutura e demais despesas. É importante observar que esse montante já está previsto na Lei Orçamentária Anual, aprovada pelo Congresso, e faz parte do planejamento fiscal do país.
A soma de gastos com previdência, salários dos servidores públicos, benefícios sociais e demais despesas obrigatórias representa uma proporção muito grande do orçamento federal — mais de 70% em certas estimativas — deixando menos espaço para investimentos estruturais e reajustes salariais generalizados. Senado Federal
Esse equilíbrio delicado torna o debate sobre salário mínimo, custo do trabalho e responsabilidade dos empregadores ainda mais complexo. Enquanto empresários reclamam do custo elevado para contratar formalmente, muitos criticam o gasto público em órgãos estatais tradicionais ou o tamanho do funcionalismo como um todo.
Não se trata apenas de um problema de setor público versus setor privado — trata-se de uma equação fiscal onde empresário, trabalhador e governo precisam encontrar caminhos para melhorar produtividade, renda e eficiência do uso dos recursos públicos.
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